Cultura assassina

Verso nado na Castela
filho de Jorge Manrique
vou usar
pra narrar a abafadela,
por muito que algum se pique
por falar.

Os meus primos dos Països,
sempre internacionalistas
e avançados,
podem, sem burla nem risos,
fazer-se abolicionistas
consagrados.

Falam uns na tradição
pra conservar as touradas
com benções.
Está longe da razão
outorgar-lhes laureadas
intenções.

Pra não ser presos protestam:
poder ou não assistir
com privança.
«Não és mais livre», contestam,
«por poderes ou não ir
à matança».

Defendem o assassinato
demagogia mediante.
«Liberdade!»
Tão dantesco, horrível ato,
tão nojenta e aberrante
crueldade.

Touros falam em salvar
da lenta e cruel extinção,
socorrer
uma raça peculiar
cuja única função
é morrer

– misturado está também
o fervor nacionalista -.
Demagógico
é dizerem que, porém,
é o seu ponto de vista
ecológico.

Mil e quinhentos outonos
desde a caída do Império
de Ocidente.
Todo um capricho de Cronos
conservado com mistério
subjacente.

Os modernos gladiadores
vivem hoje nas touradas
humilhantes
dando prazer os senhores
conservadores de asnadas.
Que moinantes!

~ por Além da Veiga em Segunda-feira, 8 Março 2010.

2 Respostas to “Cultura assassina”

  1. Un exemplo máis da actualidade da poesía como xénero literario, da súa utilidade como medio crítico da realidade.

  2. Obrigado, meu. Eu também penso que é um género esquecido, especialmente como transmissor de opinião e não apenas como veículo lírico. Oxalá mais gente se anime e ponha em verso muitas cousas para o podermos desfrutar entre todos.

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